Mais um post sobre Esportes Eletrônicos

Como recomendado pelo amigo u/badsinner, resolvi fazer um post reunindo meus argumentos.

1. "O Esporte Eletrônico não é relevante"

O esporte eletrônico tem muita infiltração na juventude, principalmente periférica, pro-players, streamers e youtubers dessa área são não só o novo sonho de vida da criançada como modelos de comportamento.
"Segundo a Cufa (Central Única das Favelas), 96% dos jovens moradores de comunidades do Brasil gostariam de ser gamers profissionais..."
https://www.uol.com.br/start/ultimas-noticias/2021/10/07/free-fire-96-dos-jovens-de-comunidades-sonham-virar-jogador-profissional.htm?cmpid=copiaecola

2. "Mas os jovens precisam de perspectiva, não de jogos"

Claro, mas ignorar que usar os jogos como ferramenta é uma possibilidade é ridículo. Olha a infiltração que esse tipo de coisa alcançou. Não estou falando aqui que o governo deve custear centro de treinamento pra jovem periférico tentar a sorte em joguinho não, to falando de usar isso como pretexto. Pretexto pra dar oficinas de arte digital, computação, reparo de eletrônicos, produção de eventos, audiovisual.
2.1. "Mas quem quer jogar não estuda. Quem gosta de jogo não vai querer curso"
Vou colar aqui um de muitos artigos relacionando práticas da educação física, como brincadeiras e dinâmicas lúdicas ao aumento da adesão escolar. Alguns apontam até uma melhora na média notas dos participantes.
https://efdeportes.com/efd178/educacao-fisica-como-reducao-da-evasao-escolar.htm

Sem contar que a própria prática do esporte eletrônicos tem seus benefícios, comunicação, rotina, atenção, raciocínio logico, fazer amizades... tudo que o esporte tradicional também trás.
A própria estrutura de um laboratório de informática pode servir a comunidade como ponto de acesso à internet e à softwares, só tem vantagens.

2.3. "Mas isso não tem a ver com esporte tradicional"

Talvez não 100%, mas como você imagina uma aula de algum esporte eletrônico? Começa falando da história, das regras, de como funciona, faz um alongamento, treina fundamentos, faz uma dinâmica, um amistoso. Vai dizer que isso não te lembra nada? Você não fazia brincadeiras na sua aula de educação física?
Claro, tem muuuita coisa pra ser desenvolvida nesse campo aliado a pedagogia, mas é justamente por isso que temos que pensar sobre o assunto. Um acompanhamento desse tipo de atividade é super importante, vide a cultura "gamer". A presença de profissionais e instrutores é essencial pra combater essa cultura tóxica, racista, misógina e tudo mais que circunda o Esporte Eletrônico e seus figurões.

3. "Mas os games não tem nada a ganhar em serem reconhecidos como esporte"

O primeiro ponto é que ninguém tá falando pra Game ser sinônimo de Esporte. Tudo depende de contexto, modalidade e de parâmetros que podem, sim, serem discutidos. Esporte tradicional também é assim, não é? Altinha não é esporte e tá tudo beleza.
O segundo ponto é que sim, a indústria, as desenvolvedoras, os conglomerados de eventos e os atuais jogadores profissionais não tem nada a ganhar com isso mesmo. Tudo que faz parte desse universo atualmente é voltado pro marketing e pro lucro, isso passa por cima de tudo. A saúde dos jovens, mental e física, as restrições de idade, a proibição de envolvimento em aposta e microtransação.. tudo é ignorado. JUSTAMENTE POR ISSO, o governo deve se meter e apresentar uma alternativa. Esse assunto deve ser problema da sociedade e do poder público, não pode ser ignorado.Precisamos de mais pesquisas relacionadas ao uso de aparelhos, precisamos de mais pesquisas relacionando vídeo games e educação, games e violência. O reconhecimento dessa atividade como uma prática esportiva pode trazer isso pra esse universo.Isso sem contar que da pra expandir isso pra fomentar a indústria nacional de games, eventos culturais e tudo mais.

4. "tem coisa mais importante pra se discutir"

Sempre tem, o Brasil é cheio de problemas, o mundo é cheio de problemas. Mas nossa pauta tem que ser máxima, não podemos aceitar menos que isso. Imagina o que teríamos se nossa pauta fosse mínima?
A questão é ser coerente e pensar num projeto que integre tudo, prioridades existem, mas isso não deve ser um fator de exclusão.

5. "Esporte eletrônico é elitista"
Segundo o estudo da McAfee, a taxa de uso de celular ente o público jovem no Brasil chega a 96%, bem acima da média global (76%)
https://exame.com/carreira/jovens-brasileiros-sao-os-que-mais-utilizam-aparelhos-eletronicos-no-mundo/

Isso sem listar aqui um monte de esporte olímpico caro PARA UM CARALHO.

6. "Algo que tem dono não pode ser esporte"
Essa é uma discussão muito válida, porém quero encaminhar pra outra direção:Como política de governo, como forma de incentivo a indústria nacional, como ferramenta de educação, o governo não poderia desenvolver modalidades de esportes eletrônicos? Quem sabe usar jogos open-source como base?Acho essa uma discussão mais produtiva do que a outra, que me parece míope.

Dinheiro se ganha em qualquer coisa nesse mundo, não venham de falsa equivalência. F1 é showroom de montadora e ninguém duvida do status de esporte da parada. Todo esporte tem interesse financeiro, de patrocinador a Federação.
A FIFA mesmo "Apesar de se registrar como entidade sem fins lucrativos, uma estimativa feita pelo jornal New York Times a partir de documentos fiscais da Fifa indica que a federação deve lucrar US$ 6,1 bilhões".
Isso sem falar em direito de transmissão, merchandising e sabe-se lá mais o que.

7. "não tem esforço físico não é esporte"

O que é "esforço físico"?Tiro é esporte? Bilhar? Xadrez? Curling?

Esporte eletrônico requer treino, repetição, fundamento, memória muscular, reflexo, técnica, raciocínio, tática.. nada disso faz você traçar um pararelo?Times de alta performace contam com preparadores físicos, fisioterapeutas, analistas, técnicos.. nada?

Conclusão
Bom, espero ter apresentado bem os argumentos e espero que o nível do debate se eleve. Sim, a comunidade tem seus problemas e as personalidades também, ninguém aqui ta discordando ou defendendo essas partes. Mas também é ridículo (ainda mais por parte da esquerda) resumir tudo a um espantalho de "gamer bolsonarista incel".A esquerda deve estar preocupada em ocupar e disputar os espaços, não o contrário.

P.S.: Ficou bem longo, com certeza deve ter alguns erros de digitação e gramática, agradeço a compreensão.